terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

Sempre

Sempre me imaginei na glória e onde estou agora, nessa belíssima sala de espera parece ser o passo mais confiante e feliz de toda minha vida. Talvez em nenhum outro momento da minha vida eu estive mais convicto de que era a coisa certa a ser feita. Turbilhão de sentimentos positivos inundaram meu interior como uma criança abrindo seus presentes embaixo da árvore na sala na manhã de natal, isso no momento em que a secretária anunciou minha vez de entrar na sala. Sala essa que eu fixava meu olhar em sua porta desde o exato segundo em que eu pisei naquela recepção. Abri a porta e me deparei com aquele corredor perfeito, com aroma de arte, era tanta informação bela que meus dois olhos devoraram aquilo como famintos e aí sim, a verdadeira porta. Com meu toque a maçaneta girava e a porta afastava para dentro do recinto, intorpecido da ingratidão que a razão fazia, se pos contra processar a informação que até parecia camera lenta, não podia acreditar em algo tão surreal. Apesar de olhar com tanta confiança, não podia esquecer do propósito de estar entrando ali, cada passo valia o próximo, tinha que ser preciso. O homem em pé no palco me encarava como "mais um" e eu timidamente confiante ignorei seu ceticismo em meu talento e subi como se fosse para receber o Oscar. Me lembro que depois disso estava novamente na recepção, que já não havia mais graça depois de ter visto como era lá dentro. Antes estava esperando para entrar, agora espero um documento que me leva a fabrica da cena. Passei no teste. A impressora parecia lenta demais pra minha anciedade. Na hora em que fui chamado, levantei eufórico pra pegar meu envelope premiado da mão da secretária antipática e metidamente fracassada e tropecei no primeiro passo que me fez rasgar parte de minha camisa com a queda .Eu mesmo ri de mim, na verdade isso se chamava felicidade. Eu sempre quero rir assim.

Descendo a escada daquele predio em que eu fui elogiado pelo mais chato de todos os mestres da profissão que eu idolatro, me imaginei com todas as boas consequências do que eu acabara de conquistar. Cheguei a ponta da calçada, esperando o semáforo de pedestres permitir minha travessia enquanto eu guardava meu envelope em minha mochila. Me lembro de ouvir uma grave buzina, olhei pra frente e a última imagem era a frente de um caminhão amarelo que com certeza não estava sob controle e não respeitava a lei de velocidade da via. Eu sempre tive medo da morte, mas ela não é tão ruim assim. Na verdade eu sempre achei que morrer não era o fim.

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